As denominadas “Aras de Santa Comba”, existentes e conservadas dentro da capela desse mesmo lugar da freguesia de Sobreira, atestam por si só a antiguidade do povoamento destas paragens. Datam da época romana, e segundo Leite de Vasconcelos, fazem constar a inscrição CALANDIAE ou CALAETAE / RVFVS FL / AVI. F / S. F. C. que traduzindo significará: “Flávio Rufo, filho de outro do mesmo nome, mandou fazer este (monumento) à sua serva Calandia ou Caleta.” Conclui o autor citado que “Como o nome da escrava, seja qual for a sua verdadeira forma, é ibérico, e o do seu senhor é puramente romano, temos nesta mistura onomástica um indício de como se operava a romanização da Lusitânia: não de uma vez, e violentamente, mas pouco a pouco e com doçura (pois um senhor não duvida exprimir numa pedra a saudade que lhe causa a morte de uma fiel escrava.”
A toponímia reforça a antiguidade da povoação, e da qual destacamos dois exemplos em particular: Castromil e Casconha. Estas são, claro está, as suas formas actuais, transmutadas ao longo de séculos, estando na origem de cada uma e respectivamente, salvo melhor opinião, os nomes próprios de Christimirus ou Cresconius, todos de origem germânica (como Recaredus, que deu em Recarei). Já o nome da freguesia – Sobreira – se descobre facilmente a sua origem latina, de suberaria, de suber, sobreiro.
Por volta do século XI, muitos dos terrenos que hoje formam a localidade foram doados ao Mosteiro de São Salvador de Paço de Sousa, que os manteve sob enfiteuse pelo menos até ao séc. XVI, altura em que a Sobreira aparece documentalmente apresentada pelo Deão da Sé do Porto. No séc. XVIII, mais precisamente em 1791, o mosteiro reivindica a posse ou recuperação do padroado, a que a sentença de 22 de Março desse ano, segundo Frei A. Meireles, não deu provimento. No princípio do séc. XIX, sob patrocínio do Deão da Sé do Porto, Luís Pedro de Andrade Brederode, foram feitas profundas obras na capela-mor e sacristia da igreja paroquial. Por essa altura, seriam colocadas nas paredes laterais da capela-mor duas pedras evocativas, uma com as armas do Deão e padroeiro in solidum da igreja, e outra assinalando a bênção solene após a conclusão das obras, com data de 24 de Junho de 1806.
Em meados do séc. XIX, mais precisamente em 1855 e 1856, uma grande parte da área territorial da freguesia deixa de lhe pertencer. Os lugares que hoje compõem a freguesia de Recarei arvoram-se em localidade autónoma, num processo lento mas justificado por três factores: progressiva autonomia quanto a serviço pastoral e centralidade religiosa (com centro de culto, cura e missa regular); crescimento demográfico, associado ao primeiro factor e que já permitia reunir uma côngrua que sustentasse pároco próprio (a população dos lugares de Recarei já equivalia aos demais da restante freguesia da Sobreira); isolamento, ou dificuldades de comunicação, devido à distância e à intransitabilidade de caminhos rudimentares e cortados por cursos de água entre os lugares de Recarei e a igreja, ou centro, de Sobreira.
Terra atravessada pelo Rio Sousa, com larga área verde e solos férteis, não admira que aqui medrassem abundantemente e ficassem famosos alguns produtos hortícolas e frutícolas. Os melões, sobretudo do lugar de Casconha, ainda hoje são conhecidos em toda a região, muito embora, presentemente, a sua produção e venda seja bastante mais restrita que em tempos mais recuados.
Patrimonialmente, além das já referidas aras romanas que se acham na Capela do lugar de Santa Comba, há a destacar a igreja antiga, de feição oitocentista (1874), e a igreja nova, dedicada por D. Manuel Clemente, bispo do Porto, no dia 10 de Junho de 2008. A capela do Senhor do Pinhal, onde se celebra a sua festa no primeiro fim-de-semana de Setembro, é relativamente recente (crê-se do séc. XIX), mas encontra-se em muito avançado estado de degradação. Também a ponte de Casconha, no lugar com o mesmo nome, merece naturalmente destaque, tendo sido edificada durante a Idade Média embora substancialmente restaurada já durante a idade moderna.
Entre as ilustres personalidades sobreirenses encontra-se o bispo D. Pompeu de Sá Leão e Seabra. Nasceu a 19 de Janeiro de 1908, frequentou os seminários espiritanos e foi ordenado sacerdote no dia 4 de Outubro de 1931. A 10 de Março de 1963 é sagrado bispo de Malange (Angola) cargo que exerceu até à data da sua morte. Esteve presente nas sessões do Concílio Vaticano II entre 1963 e 1965. Faleceu a 7 de Abril de 1973 tendo sido sepultado na diocese angolana para a qual fora nomeado.
Párocos (e coadjutores) da Sobreira
Pe. Domingos Moreira – 1666
Pe. Clemente da Costa – 1666-1690
Pe. Manuel Pereira Pessoa – 1667-1668
Pe. João de Almeida – 1671-1689
Pe. João de Melo – 1691-1701
Pe. Gonçalo da Cruz Maia – 1701-1711
Pe. Domingos Pais – 1711-1712
Pe. Baltazar Pereira de Góis – 1712-1736
Pe. Manuel Coelho – 1720-1734
Pe. José Ribeiro dos Guimarães – 1735-1736
Pe. Manuel de Ascensão Ribeiro dos Guimarães – 1736-1765
Pe. António Nogueira – 1761-1765
Pe. João da Rocha Vale – 1744/45 e 1768-1772
Pe. Francisco Inácio de Morais Alão – 1765-1780
Pe. João da Rocha Vale – 1773-1779
Pe. Manuel Francisco da Fonseca Rodrigues de Sousa – 1781-1783
Pe. Custódio José da Silva Leal – 1786
Pe. João António de Castro Vasconcelos – 1781-1815
Pe. José Bernardo Brandão – 1807-1808
Pe. Manuel da Cunha Leão – 1809-1823
Pe. Joaquim da Silva Nogueira – 1825-1856
Pe. Domingos José Dias de Meireles – 1856
Pe. António Monteiro Soares – 1860-1871
Pe. Manuel Moreira Soares de Pinho – 1871-1874
Pe. José Augusto Pais Moreira – 1873-1876
Pe. Estêvão Coelho Dias – 1877-1879
Pe. José Xavier Pinto da Silveira – 1879-1881
Pe. Jeremias Barbosa Pinto – 1881-1888
Pe. Bernardino Barbosa da Silva Leão – 1887-1932
Pe. António Jorge Coelho – 1953-1971
Pe. Manuel Pinto Coelho – 1971-1984
Pe. César Augusto Martins – 1984-1999
Pe. Pedro Sérgio Gomes da Silva – desde 1999
Listagem de párocos com base em artigo de M. Gastão da Penha, in O Progresso de Paredes, 17/11/2006